O Conto Maravilhoso narra acontecimentos fantásticas. São histórias de fadas, de gigantes, de gnomos, de anões, …
O Conto Maravilhoso narra “maravilhas”, isto é, acontecimentos fabulosos, prodígios e milagres.
Começam habitualmente por Era uma vez... ou Há muitos, muitos anos... e acabam geralmente com uma fórmula:
... e viveram felizes para sempre.
Os irmãos Grimm chamavam-se Jacob e Guilherme (Wilhelm) e nasceram na Alemanha, em 1785 e 1786, respectivamente. Publicaram, em 1812, um volume de contos que se tornou o livro mais lido depois da Bíblia. Eram contos tradicionais.
Como arranjaram eles esses contos?
Entrevistaram camponeses e pastores, pessoas do campo já idosas que se lembravam das histórias que ouviam contar oralmente e assim, tinham passado de geração em geração.
Entre essas histórias figuravam Branca de Neve e os Sete Anões, Hansel e Gretel, Rapunzel, O Pequeno Polegar e O Capuchinho Vermelho.
Algumas das suas histórias já tinham também sido recolhidas pelo francês Charles Perrault.
RAPUNZEL
Era uma vez um casal de camponeses. A mulher estava grávida e sentiu o desejo enorme de comer umas flores, que se chamam raponços e que ela via no jardim da casa vizinha que pertencia a uma feiticeira. Como sabes, os desejos das grávidas devem ser atendidos para que o bebé nasça perfeito. O marido planeou então, quando anoitecesse, levar a mulher ao jardim para ela poder comer as flores. Infelizmente foram apanhados pela feiticeira, que quis matá-los. Porém, quando soube do que se tratava, deu um raponço (planta comestível) à camponesa, obrigando-a a prometer que lhe daria a filha quando ela nascesse. A menina viria a ter o nome de Rapunzel, que quer dizer raponço.Mal a menina nasceu foi entregue à feiticeira, nunca chegando a conhecer a sua verdadeira mãe.
Rapunzel era a mais encantadora menina à face da Terra. Assim que atingiu doze anos, a feiticeira encerrou-a numa torre, no meio de uma floresta, e a torre não tinha portas nem escadas - apenas, lá muito em cima, uma varanda e uma janela.
Quando a velha feiticeira queria visitar a rapariga, colocava-se debaixo da janela e dizia:
Quando a velha feiticeira queria visitar a rapariga, colocava-se debaixo da janela e dizia:
- Rapunzel, Rapunzel,solta o teu cabelo de oiro.
Rapunzel tinha um maravilhoso cabelo comprido e macio, e tão brilhante como oiro. Sempre que ouvia a voz da feiticeira ela soltava as suas tranças, e deixava que o cabelo caísse pela janela, tornando-se uma escada por onde a feiticeira subia até ao cimo da torre.
Depois de terem vivido assim por alguns anos, aconteceu que, um dia, um príncipe cavalgava pela floresta e passou perto da torre. Ao aproximar-se ouviu alguém cantar tão suavemente, que parrou maravilhado, a ouvir. O príncipe desejou ver a dona de tal voz, mas em vão procurou uma porta na torre. Regressou a casa, mas sentiu-se tão tentado por aquela canção que ouvira, que todos os dias voltava à floresta para a escutar. Um dia, quando se encontrava atrás de uma árvore, viu a velha feiticeira aproximar-se e chamar:
- Rapunzel, Rapunzel, solta o teu cabelo de oiro.
Logo Rapunzel soltou as tranças, e a feiticeira trepou por elas.
No dia seguinte, ao entardecer, o príncipe aproximou-se da torre e chamou:
- Rapunzel, Rapunzel, solta o teu cabelo de oiro.
E, assim que ela deixou cair a maravilhosa escada dourada, ele subiu.
A princípio, Rapunzel ficou terrivelmente assustada ao ver um homem entrar, pois nunca tinha visto nenhum. Mas o príncipe falou-lhe com bondade, e disse-lhe logo que o seu coração tinha sido tão tocado pelo seu canto que achava que não teria paz de espírito enquanto a não visse. Em breve Rapunzel se esqueceu do seu receio, e quando ele lhe pediu a sua mão, imediatamente assentiu.
- De cada vez que me vieres ver traz-me um fio de seda, e eu farei com ele uma escada. Quando estiver pronta, descerei por ela, e tu levar-me-ás no teu cavalo.
A velha feiticeira, é claro, nada sabia do que se passava, até que um dia Rapunzel, sem pensar no que estava a dizer, se voltou para a feiticeira e lhe perguntou:
- Como se explica, boa mãe, que custes mais a subir do que o príncipe?
- Oh, malvada criança! - exclamou a feiticeira - que ouço eu?! Pensei que te havia escondido de todo o mundo e, apesar disso, conseguiste iludir-me.
Na sua raiva, agarrou no belo cabelo de Rapunzel, enrolou-o em torno da sua mão esquerda e, pegando numa tesoura, cortou as belas tranças. E, pior do que isso, levou Rapunzel para um lugar solitário e deserto, onde a deixou, para viver na pior das solidões e das misérias.
Ora, na noite em que a levou para longe, a feiticeira prendeu as tranças da jovem no fecho da janela e, quando o príncipe chegou, ela deixou-as cair, e ele subiu, como habitualmente. Em vez da sua amada Rapunzel, encontrou a velha feiticeira, que fixou nele os olhos malvados, e exclamou, em voz trocista:
- Rapunzel está perdida para sempre. Nunca mais voltarás a vê-la!
O príncipe ficou transtornado pela dor e, no seu desespero, caíu da janela da torre. Embora tivesse escapado com vida, os espinhos entre os quais caiu feriram-lhe os olhos. E assim, vagueou cego e miserável, através da floresta, até que os seus passos o levaram ao lugar deserto em que Rapunzel vivia. Sem crer no que ouvia, distinguiu uma voz que lhe pareceu estranhamente familiar.
Rapunzel reconheceu-o e lançou-se-lhe nos braços, chorando. Duas das suas lágrimas caíram nos olhos dele, e num momento ficou curado, voltando a ver como antes. Conduziu então a jovem para o seu reino, onde foram recebidos com grande alegria; casaram e viveram muito felizes para sempre .
Jakob e Wilhelm GRIMM, «Rapunzel» (texto adaptado),
in Os Mais Belos Contos de Fadas,
tradução de Botelho da Silva, Selecções do Reader's Digest
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